Maio, 2017
A onda digital que atingiu o recrutamento está a provocar uma transformação profunda na forma como os profissionais analisam as candidaturas. A preocupação de conhecer e validar experiências, conhecimentos e atitudes está a deslocar-se das tradicionais entrevistas e análise dos currículos, para a informação disponível nas redes sociais, onde a pegada digital dos candidatos se tornou mais completa e abrangente do que nos tradicionais suportes seletivos.
Enquanto ainda há dez anos a carta de candidatura era a referência principal nos processos de pré triagem, a informação - profissional e pessoal - exposta atualmente pelos candidatos, passou a estar disponível nas redes sociais, ao alcance de utilizações invasivas, que permitem a muitos recrutadores avaliar informações de natureza pessoal e profissional do candidato, para as funções a preencher. A ligeireza e ingenuidade com que muitos candidatos expõem sentimentos, hábitos e comportamentos que deveriam preservar na esfera pessoal, leva a que recrutadores poucos escrupulosos baseiem julgamentos em pressupostos de duvidosa validade e de indiscutível ilegalidade.
Na era digital, os candidatos ganharam também consciência da competitividade da candidatura e deixaram de estar disponíveis para processos cuja decisão se arrastava por largo meses. Os bons candidatos saltam facilmente de uma oportunidade para outra, num mercado de emprego onde a frequência de oportunidades de emprego se tornou banal.
Num contexto onde as tecnologias evoluem à velocidade da luz, as empresas mais ágeis terão que se preocupar não apenas com uma alteração profunda dos métodos de recrutamento mas também com a imagem digital que transmitem no mercado de emprego. O employment branding é um dos principais argumentos para a captação de talentos, num mercado onde a geração X e parte da geração Y já não reconhecem pergaminhos que foram fatores importantes para o recrutamento das gerações anteriores, mas que as novas gerações não valorizam.
A previsível aplicação de programas analíticos inteligentes, semelhantes aos que se utilizam no tratamento da informação relativa a clientes para ajudar o desenvolvimento de estratégias de negócios, será em breve uma realidade em sites que já permitem aos recrutadores identificar e localizar os melhores candidatos, incluindo aqueles que, apesar de empregados e satisfeitos, estão recetivos a conhecer e a experimentar novas oportunidades.
Amândio da Fonseca
