Junho, 2017
A necessidade de controlar o acesso à vida privada, constitui uma motivação básica de todos os seres humanos.
No entanto, muitos dos utilizadores das redes sociais parecem não se aperceber dos riscos que correm quando colocam em causa os limites entre a vida privada e a vida profissional, ignorando um número indeterminado de organizações, que poderão estar a utilizar, de forma clandestina, as redes sociais para selecionar colaboradores.
O uso das redes sociais nos processos de candidatura é uma faca de dois gumes, na medida em que pode contribuir para melhorar o branding e o sucesso de candidatos e recrutadores, como pode, igualmente, provocar riscos comparáveis aos da abertura da mítica Caixa de Pandora que, uma vez aberta, não permite controlar os efeitos perniciosos.
Para muitos daqueles que publicam inadvertidamente desabafos inadequados ou “confidenciam” hábitos pessoais e costumes - aos quais a Internet dá difusão imediata - as consequências podem ser incontroláveis. A inexistência, no mundo digital, do “direito de ser esquecido” abre a possibilidade de factos incómodos poderem, à revelia dos autores, serem explorados, sem qualquer controlo, por terceiros.
As diretrizes do Supremo Tribunal Europeu de Justiça para proteger o direito pessoal à privacidade, que é contestada por motores de busca e fornecedores de internet, não garantem a remoção de links “inadequados, irrelevantes ou excessivos”, constituindo uma ameaça real para os utilizadores das redes sociais e, nomeadamente, para a geração de nativos digitais – as pessoas que cresceram com a internet e não conseguem viver sem as redes sociais.
Com tantos biliões de seguidores, as redes sociais tornaram-se num campo inesgotável de seleção, onde muitos recrutadores procuram sinais de excessos de qualquer ordem, observações acerca de anteriores empregos e colegas, para fazerem a triagem rápida de candidatos. Em 2011, cerca de 65% das organizações norte americanas utilizavam as redes sociais para selecionar empregados. Em Portugal, e devido às práticas de “speed recruitment”, que muitos recrutadores passaram a utilizar, os resultados não deverão ser diferentes. Para os profissionais de recrutamento que orientam as práticas por princípios éticos rigorosos, a privacidade dos candidatos constitui uma regra fundamental.
Para retirar do mundo digital as imensas vantagens que ele nos proporciona, como fórum de negócios ou encontro com amigos e conhecidos, é importante não esquecer os riscos inerentes.
Amândio da Fonseca
Fundador e CEO da EGOR, in Expresso.