Agosto, 2017
Uma das grandes empresas mundiais do setor dos seguros publicou, em 2017, os resultados de um “survey” efetuado com o objetivo de identificar, na era digital, os principais riscos das empresas.
O Global Risk Management Survey da AON, foi efetuado em onze diferentes línguas, envolveu cerca de dois mil CEO's e CFO's, abrangeu cerca de trinta diferentes setores de atividade e elegeu, como já tinha acontecido em 2015, os danos de reputação e imagem como a primeira e principal ameaça no ranking dos dez maiores riscos empresariais.
Embora todos os seres humanos tenham a consciência instintiva da importância da sua imagem e reputação, nem sempre as empresas se apercebem das consequências e riscos em que podem incorrer no que respeita aos ativos humanos. Numa sociedade de serviços, nos quais 70 a 80% do valor da empresa advém de conceitos intangíveis como o valor da marca, good will da empresa, capital intelectual e clima social das empresas são particularmente vulneráveis a qualquer incidente que prejudique a reputação.
As consequências da propagação instantânea na sociedade digital de notícias danosas são conhecidas. Destroem projetos, afundam cotações e arruínam a carreira de líderes aparentemente invulneráveis. É desnecessário recordar os escândalos da Wolkswagen para avaliar os prejuízos. Temos, em Portugal, casos recentes de erros de corporate governance, escândalos financeiros e casos de corrupção que destruíram empresas e lançaram na lama a reputação de gestores que tinham construído, ao longo dos anos, mediáticas carreiras de sucesso.
Numa economia que se depara hoje com uma dramática escassez de profissionais qualificados, a valorização da reputação e da imagem da nova realidade portuguesa, é crucial para atrair o regresso dos talentos forçados a sair de Portugal. No plano das organizações, os sinais de uma cultura empresarial na qual, com frequência, os candidatos a emprego são tratados de forma displicente, os processos de recrutamento se arrastam ao longo de meses e a confidencialidades dos dados pessoais nem sempre está garantida, constituem problemas para os quais a recente legislação europeia de proteção de dados deverá impor melhorias decisivas.
Não é por acaso que o relatório da AON coloca, na sétima posição dos riscos mortais das empresas, a incapacidade de atrair e manter os profissionais de que necessitam.
Amândio da Fonseca
Fundador e CEO da EGOR
*in Jornal Expresso, 5 de agosto de 2017