Sincronias

Outubro, 2017

Nos anos 60, Drucker popularizou uma classe emergente a que chamou "os trabalhadores do conhecimento". Algumas décadas depois, os cientistas sociais concluíram que, mais do que o conhecimento, é a criatividade humana que constitui a principal riqueza das nações e que a capacidade para descobrir novas ideias e maneiras mais rápidas de fazer as coisas é que constitui o fator decisivo do aumento da produtividade e melhoria dos níveis de vida das sociedades.

Enquanto a transição entre a economia baseada na agricultura e na energia animal e a economia aportada pela revolução industrial se baseou sobretudo na eletricidade e na força física, na economia criativa o esforço humano é substituído pelo trabalho baseado na inteligência, no conhecimento e sobretudo na criatividade. Nas últimas quatro décadas, a facilidade de acesso ao ensino superior, a regionalização das universidades e a valorização da cultura levou a que o número de portugueses que fazem trabalho criativo crescesse exponencialmente.

Cientistas, engenheiros, arquitetos, médicos, artistas, músicos, atores, jornalistas, designers e muitos outros cujo trabalho se baseia na capacidade de criar novas ideias e novas formas de entendimento, em todos os sectores de atividade, deram origem a uma nova geometria sócio económica a que Richard Florida chamou a "classe criativa". A classe criativa abrange todos quantos independentemente das qualificações acrescentam valor económico àquilo que fazem através da criatividade.

Para Richard Florida, autor de best-sellers e professor da Carnegie Mellon University, a criatividade é o fator-chave da evolução da sociedades humanas e é o impulso criativo que nos distingue de outras espécies vivas. Em todos os sectores na arte, na literatura, na moda, como nos automóveis ou nas tecnologias digitais os vencedores são os corredores de fundo que reformulam, renovam e reinventam permanentemente novas ideias, novos produtos, novos serviços num mundo onde a criatividade se tornou a comodity mais importante para o futuro do ser humano.

Estilos de vida, tolerância de costumes, maneiras de vestir são os sinais mais visíveis da emergência de uma nova ordem socioeconómica na qual a diversidade de género, a liberdade sexual, o caldo de culturas e línguas se tornaram fatores competitivos que distinguem as cidades e os países mais prósperos e mais criativos.

Amândio da Fonseca
Fundador e CEO da EGOR

*in Jornal Expresso, 28 de outubro de 2017

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