Dezembro, 2017
A supremacia humana e a capacidade de criar máquinas para alavancar o desenvolvimento das sociedades, pode vir a revelar-se um presente envenenado, num futuro no qual as “learning machines” serão capazes de programar-se a si mesmas e demonstrar que podem ser, não apenas mais rápidas e abissalmente mais produtivas que os seus criadores, mas também, cognitivamente mais rápidas e eficientes.
Quando, em 1997, o Deep Blue da IBM derrotou o campeão mundial de xadrez Gary Kasparov, o mundo sobressaltou-se. Mas o caso não teve um impacto suficientemente forte para pôr em causa a crença da superioridade do homem sobre a máquina.
Nos últimos tempos, começaram, no entanto, a surgir testemunhos explícitos dos riscos da Inteligência Artificial e dos algoritmos de aprendizagem provocarem a substituição de milhões de postos de trabalho, por equipamentos sofisticados e altamente produtivos.
Três séculos depois da revolução industrial, quando um robot inexpressivo anunciou numa edição da Web Summit, a milhões de seguidores em todo o mundo, que estava a chegar a altura de ocupar o lugar do homem nos postos de trabalho, a ameaça tornou-se viral.
Apesar da invocação perentória de Paddy Cosgrave de que a "tecnologia vai virar de pernas para o ar tudo o que conhecemos até agora", da premonição cientifica de Stephen Hawking, do alarme de António Guterres com o inevitável desemprego de milhões de motoristas no país onde vive, ou o testemunho do pai do Tesla de que a ameaça das novíssimas tecnologias é muito mais real do que um conflito nuclear com a Coreia do Norte, as empresas de Sillicon Valley e os cientistas da Big Data continuam a procurar encontrar o "algoritmo dos algoritmos". Uma solução que tanto pode trazer consigo a cura do cancro e a descoberta do Santo Graal do sentido da vida, como destruir a humanidade.
Não é de estranhar que empresas como a Google, Ikea, Amazon, e-Bay, Uber, Facebook, Linkedin e outras que controlam, no mundo digital, as plataformas mais poderosas, se debatam, atualmente, com dois grandes desafios: a tentação de explorar as gigantescas bases de conhecimentos de que dispõem para lançar negócios bilionários e o receio de que a automação intensiva da economia global, traga consigo a abertura de uma monstruosa caixa de pandora e destrua, em todos os setores de atividade, milhões de postos de trabalho…
Amândio da Fonseca
Fundador e CEO da EGOR
*in Jornal Expresso, 01 de dezembro de 2017