Agosto, 2018
Um relatório recente do FMI alertava para os efeitos de envelhecimento na produtividade e na inovação das economias. Tal como nos Estados Unidos, onde dez mil pessoas atingem, diariamente, os 65 anos, os efeitos do “silver tsunami“ fazem-se sentir em toda a Europa. Não sendo ainda um dos países mais afetados, Portugal enfrenta graves desafios, na medida em que - para além dos índices negativos da natalidade - em 2015 mais de 20% da população tinha ultrapassado os 65 anos e as projeções para 2030, são ainda mais preocupantes.
Para o FMI, os “trabalhadores mais velhos acumulam experiência mas, à medida que os anos avançam, o nível de competências vai ficando mais datado e reflete-se negativamente na produtividade e na capacidade de inovar“.
No entanto, para antropólogos e cientistas com uma perspetiva holística do envelhecimento ativo, as consequências são diferentes.
Para esses, faz sentido o exemplo de Peter Drucker, que trabalhou até aos 96 anos com saúde, alegria e vitalidade e escreveu que, no futuro, as transformações mais importantes para a vida das pessoas, não seriam nem a globalização, nem as novas tecnologias, mas antes, aquilo a que chamou o milagre do sec XXI: o extraordinário aumento da esperança de vida.
Kurt Kurzveil - um respeitado professor e futurista americano - acredita que entre 2020 e 2050, vão haver avanços tão importantes na longevidade, que a espécie humana terá uma vida mais produtiva e mais longa, à medida em que o desenvolvimento da medicina e das nanotecnologias for progredindo para níveis inimagináveis.
Senão vejamos: A partir da segunda metade do século passado, a longevidade humana começou a aumentar de forma exponencial. Na Europa, no inicio do sec XIX, apenas 25% das pessoas viviam até aos sessenta anos e eram consideradas idosas. No entanto, em 2010, mais de 90% das pessoas já ultrapassavam os 60 anos. Nos dias de hoje, uma pessoa com 60 anos é considerada de meia idade e faz funções e tarefas que, umas décadas antes, só podiam ser feitas por pessoas muito mais jovens.
A extensão do tempo de vida é, já hoje, uma realidade para muitas pessoas que, para além dos 65 anos, se depararam com o desafio de trabalhar e planear novas carreiras para mais dez ou vinte anos de vida ativa e saudável.
Não é por acaso que uma sondagem internacional efetuada em 2005, concluiu que, uma larga maioria de pessoas, querem continuar a trabalhar depois da reforma, não só pelas vantagens monetárias, mas também para continuarem a sentir-se ativas, manter relações sociais e garantir que utilizam o tempo para fazer coisas importantes e valiosas.
Amândio da Fonseca
Fundador e CEO da EGOR
*in Jornal Expresso, Agosto de 2018