A MORTE ANUNCIADA DO RECRUTAMENTO

Setembro, 2018

Nos últimos tempos, o espetro da desaparição das empresas e dos consultores de recrutamento, tem marcado presença frequente nos média. Na grande maioria dos casos, as notícias denunciam uma visão distorcida ou incompleta da atividade e são veiculadas por pessoas que nunca fizerem recrutamento, entrevistaram candidatos, não tem experiência da profissão nem conhecem o setor de atividade.

A atração pelo tema não é de hoje. Nos últimos vinte anos, a morte das atividades do recrutamento já foi associada ao lançamento do MONSTER BOARD, em 1999, e outros “job boards” que geraram a ilusão que um acesso fácil e direto das empresas a uma elite de candidatos, resolveria os problemas de captação do talento. A pujança com que o Linkedin se impôs internacionalmente, a partir de 2003, nos mercados do trabalho, foi mais uma oportunidade para os apóstolos das tecnologias anunciarem a desaparição, num prazo não superior a três anos, das empresas de recrutamento.  Vinte anos depois, as principais empresas do setor estão de boa saúde e os seus consultores passaram, há muito, a utilizar o Monster e outros “job boards”, a par do Linkedin e aplicações semelhantes, para trabalhar com maior rapidez e eficácia.

Apesar dos desenvolvimentos do software e dos algoritmos de aprendizagem, está ainda por descobrir uma aplicação informática que consiga persuadir uma pessoa a mudar de emprego, aconselhá-la nas opções de carreira, fazer a ponte no processo de negociação entre a empresa e o candidato, alimentar-lhe a motivação para esperar quando  o processo de decisão se arrastar, ajudar o cliente a concluir  que nem sempre o  candidato que mais gostou é o mais indicado para uma dada função e assumir a função de coach organizacional, quando está em jogo o projeto de vida de pessoas e o preenchimento de posições vitais.

As novas tecnologias obrigaram as principais empresas do setor a dotarem-se de meios tecnológicos avançados e os profissionais de recrutamento a assumirem um papel mais interveniente na facilitação da mobilidade dos candidatos e mais preparados para resolver equações humanas que, pela complexidade das motivações, sentimentos e emoções que uma mudança na vida pessoal e profissional arrasta, as máquinas não conseguem resolver.

Quem, certamente, irá desaparecendo gradualmente são as empresas e todos aqueles que, numa atividade que não é regulamentada, utilizam processos de trabalho menos éticos.

Amândio da Fonseca
Fundador e CEO da EGOR

*in Jornal Expresso, Setembro de 2018

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