A bola preta

 23 de Março de 2019

O progresso científico está a mudar tão rapidamente a vida das pessoas que, inevitavelmente, terminará por destabilizar a humanidade. O sentimento de um vulnerable world acentua-se perante a incapacidade política de controlar a criatividade humana destrutiva. Para Nick Bostrom, investigador no “Future of Humanity Institute” (U. Oxford) uma forma de encarar a criatividade é imaginá-la como um saco de onde o homem vai retirando bolas.

As bolas representam ideias, descobertas ou invenções tecnológicas. Quando são brancas aportam grandes benefícios. Mas, por vezes, as bolas são cinzentas e moderadamente prejudiciais. Apesar de tudo o balanço tem sido – nos últimos dez mil anos – positivo. Mas o que até agora, não extraímos foi uma bola preta – uma tecnologia que, por defeito ou não, destrua a civilização que a criou. Se isso ainda não aconteceu não é porque a humanidade tenha sido particularmente cuidadosa a usar as tecnologias, mas porque, segundo Bostrom, temos tido muita sorte.

Kevin Kelly é um americano que faz igualmente uma leitura acutilante da natureza humana e da evolução tecnológica, cultural e social. Autor de uma longa série de best sellers que venderam milhões de exemplares em todo o mundo, Kevin é uma testemunha privilegiada da saga tecnológica dos últimos 30 anos. Contemporâneo, nos anos 80, do casamento dos computadores e dos telefones, tem vindo, há muito, a analisar criticamente as ameaças da era digital e da inteligência artificial e a denunciar os riscos da tecnologização da humanidade. Cofundador, em 1993, da WIRE de que foi editor-chefe e senior Maverick. O seu último livro “The Inevitable”, publicado em 2017, é não apenas um relato crítico da evolução tecnológica nas últimas três décadas, mas sobretudo uma antevisão preocupada de um futuro onde a informação flutua tão facilmente para os produtos como já acontece com a eletricidade. Segundo ele o avanço incontrolável das tecnologias, dos robôs e dos algoritmos de aprendizagem vai acelerar a incapacidade humana de controlar o domínio da inteligência artificial. O ritmo e a velocidade da inovação digital estão a tornar-se tão rápidos que vão (já está) a ultrapassar a capacidade humana de assimilar e dominar as novas tecnologias. É uma corrida desigual que vai tornar o ser humano um perpétuo aprendiz, perseguidos pela obsolescência, daquilo que aprendeu mas que, entretanto, foi ultrapassado.

Amândio da Fonseca

Chairman e Fundador do Grupo EGOR

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