Abril 2020
Amândio da Fonseca | Chairman e Fundador do Grupo EGOR
Na tragédia humana em que estamos mergulhados todos percebemos que o Mundo - tal como o conhecemos - nunca mais será o mesmo. Mesmo que Portugal consiga evitar o caos italiano ou o desespero espanhol, as consequências - nos próximos anos - vão ser extremamente dolorosas para todos os portugueses. Os progressos sociais, políticos, económicos, culturais dos últimos quarenta anos e a expectativa de, mais tarde ou mais cedo, podermos atingir os níveis de vida dos parceiros europeus ficaram subitamente mais distantes.
O crescimento da economia e o excedente orçamental em 2019, a overdose turística dos últimos anos, a euforia das novas tecnologias, as promessas de prosperidade do programa 2020, os níveis de desemprego mais baixos de sempre etc evaporaram-se no curto espaço de uma quarentena. Empresas icónicas fecharam operações, a maioria das pequenas e médias empresas fechou portas e muitos milhares de pessoas estão, em todo o País confinados a trabalhar em casa.
No plano mundial, o COVID-19 vai acelerar a entrada da IA e da automatização nos escritórios, nas fábricas, nos serviços e nas nossas vidas. Com exceção de uma minoria de trabalhadores tecnologicamente habilitados para responder às novas exigências de produtividade, a esmagadora maioria das pessoas vai ser forçada a pensar num futuro onde o SBU – Salário Básico Universal deixará de ser uma fantasia.
A confirmarem-se as previsões de queda do PIB entre 5 a 10% do Banco de Portugal e da Católica, o aumento do desemprego vai ser muito alto nos próximos três a cinco anos e as condições de vida dos portugueses serão muito mais difíceis do que os anos da troika.
Num panorama sombrio onde a esperança é escassa, a minha perceção é de que que próximos anos o futuro das empresas de consultoria de RH’s vai depender da capacidade de se imporem num mercado onde a importância de “captar e desenvolver as pessoas e reinventar negócios” se tenha tornado o lema mais importante.
O grande desafio consiste na capacidade de tomar decisões críticas para resistir ao mais que previsível agravamento da situação clínica e económica e – last but not least - demonstrar a capacidade de, nós próprios, pormos em prática aquilo que propomos aos Clientes.