8 de junho de 2020
Amândio da Fonseca | Caderno de Economia do Expresso
Os verdadeiros impactos da maior disrupção da era moderna, estão longe de poder ser avaliados. Sabe-se pouco sobre a pandemia, desconhece-se a forma como a doença vai evoluir e menos ainda sobre as consequências que vai ter na vida dos humanos. Embora as consequências tangíveis e intangíveis da doença, nas situações em que duas ou mais pessoas tenham que conviver sejam nebulosas, não há dúvida de que uma parte significativa das mudanças vai afetar o “modus vivendi” das organizações.
O recurso ao trabalho remoto é um exemplo da forma como muitas pessoas vão passar a viver, trabalhar e relacionar-se. Com o tempo, a habituação e o enquadramento legal, o trabalho remoto vai tornar-se mais um fringe benefit laboral. Constituirá uma vantagem competitiva para quem recruta e um fator lucrativo para as empresas preparadas para conjugar o trabalho à distância com melhores objetivos de produtividade.
Um mundo de trabalho descentralizado, acossado por riscos sanitários e a braços com elevadas taxas de desemprego, vai gerar conflitualidade. Não apenas de natureza social, mas também problemas de stresse, ansiedade, depressão e saúde mental associados a situações de incerteza e angústia no qual os jovens, saídos dos sistemas educativos, vão ser as principais vítimas.
Apesar das dificuldades nem todos as atividades sofrerão com o refluxo económico. A par de setores que definem outros negócios, ativados ou a reboque da pandemia, vão prosperar. Dado que a presença física continuará a ser indispensável, setores como a hospitalidade, cuidados de saúde e cadeia alimentar, entre outros, vão exigir a criação de novos postos de trabalho. O setor do IT, como o da saúde, terão necessidade de recrutar não só mais profissionais, mas a esforçar-se para reter o talento num mercado de trabalho onde o recrutamento se vai tornar mais difícil. O comércio digital é outro nicho de atividade no qual a criação de estruturas de armazenagem, recursos logísticos e plataformas de entrega e distribuição de bens e serviços vai gerar novos postos de trabalho. Os candidatos também vão estar mais ativos. Com maior disponibilidade pessoal – a trabalhar em casa ou não – vão estar mais recetivos a mudar de emprego. Conviver com os fantasmas da pandemia vai aumentar a mobilidade das carreiras e incentivar as pessoas a procurar setores com menores riscos de infeção.