Julho de 2020
Amândio da Fonseca | Chairman e Fundador do Grupo EGOR
Ninguém duvida que o Covid-19 virou as nossas vidas de cabeça para baixo. Mas o que é importante agora é tentar perceber o que vai acontecer no futuro, as mudanças que vieram para ficar e o que devemos fazer, não para lutar contra a situação, mas para nos adaptarmos às mudanças que estão a acontecer.
Algumas mudanças, como o teletrabalho, já percebemos que vieram para ficar. As empresas descobriram que a produtividade pode aumentar e, adicionalmente, irão traduzir-se não apenas em redução de espaços e economias de deslocação, mas também responder as aspirações dos colaboradores de conquistar maior flexibilidade dos tempos de trabalho e concretizar finalmente a tão almejada possibilidade de conciliar a carreira profissional com o lazer e a vida familiar.
Uma outra constatação é de que vamos ter de viver, não apenas com o Covid-19 por muito tempo, mas também com um permanente sentimento de insegurança física e psicológica. As medidas tomadas como resposta a declaração de pandemia vão manter-se, por muito tempo, mesmo que surja a vacina pela qual todos ansiamos. A cultura de medo, resultante das medidas de segurança impostas pelo Governo, vai deixar uma marca profunda na psicologia das multidões e perdurar, na memória coletiva, por muitas dezenas de anos. A segurança vai tornar-se igualmente um argumento de peso nas decisões de mudança de emprego.
Para acelerar a recuperação as empresas vão apostar cada vez mais na automação e nas vantagens produtivas das ferramentas tecnológicas de que necessitam para se manter nas faixas de alta velocidade da gig economy. Os investimentos em tecnologias são necessários não apenas para responder às exigências do trabalho remoto, mas também para automatizar tarefas sob o pretexto, em muitos casos, de salvaguarda da segurança dos trabalhadores.
Em muitos casos, as pessoas terão funções diferentes das anteriores e passarão a desempenhar, tarefas que as vão obrigar a adquirir, a todos níveis, novas competências técnicas e comportamentais. Um empregado de balcão que passou atender por detrás de uma placa de pexiglas ou o médico que faz agora telemedicina são apenas alguns exemplos. Quem estiver no mercado de trabalho vai ter que estar preparado para se adaptar a funções que nunca tinha desempenhado e responder a necessidades das empresas que surgirão sem aviso prévio.
Nas atividades de recrutamento, a subida do desemprego vai criar abundância de candidatos e o poder da decisão vai deixar de estar do lado do candidato para regressar de novo aos empregadores num mercado de trabalho que será muito diferente do atual. Não é improvável que as empresas prestem durante a crise menos atenção ao desenvolvimento dos empregados, obrigando as empresas do setor da formação a serem mais criativas na oferta e a apostar sobretudo em clientes com uma forte cultura de Learning & Development.
Há que esperar que, no final, as coisas não serão tão más como poderiam parecer.