À ESPERA DE GODOT

Setembro de 2020

Amândio da Fonseca | Chairman e Fundador do Grupo EGOR

As gerações mascaradas nunca irão esquecer os efeitos tangíveis e intangíveis duma pandemia, sem fim à vista, que já causou milhões de infetados e a morte de centenas de milhares de pessoas, lançou multidões no desemprego, esgotou os stocks dos bancos alimentares e semeou a desordem no mundo dos negócios.

Inexplicavelmente pouco se fala da pesada fatura que os sentimentos de perda e de luto estão e irão continuar a cobrar ao ser humano comum. Uns porque perderam seres queridos ou empregos e negócios, outros que, como o Simão que tinha acabado de completar o curso de piloto comercial e aguardava um estágio numa companhia de aviação, perderam sonhos e carreiras.

Os custos humanos da crise estão ainda por equacionar, mas são eles que vão modelar o futuro das nossas vidas. A situação é ainda mais trágica porque, tal como na peça de Samuel Becket, uma das obras-primas do teatro do absurdo, todos continuamos à espera de Monsieur Godot que não sabemos quando vai chegar.

Elisabeth Kubler-Ross, uma psiquiatra suisso-americana, caraterizou no best sellerOn Death and Dying“ as cinco fases dos sentimentos humanos quando, inexplicavelmente, se abate sobre nós uma situação que ameaça a existência física ou psicológica. Todos os conhecemos em alguma fase da vida: doença, divórcio, perda de um ser amado. Na fase da negação todos a recusamos. Quando o COVID surgiu, a maioria desvalorizou a situação e pensou que a pandemia não os afetaria. Quando foi impossível manter a fase da negação passamos à fase da revolta e da zanga. Procuramos culpados e sentimo-nos injustiçados. Porquê eu? A falta de resposta impeliu-nos para uma fase da negociação connosco mesmos. “A partir de agora vou passar a lavar melhor as mãos, manter as distâncias…”.

Mas à medida que a situação acentua a impotência, deslizamos para a fase de desespero e os pensamentos depressivos. A quarentena, a incerteza do emprego e do futuro, o cérebro a aproximar-se do limite dos mil pensamentos por segundo, é imperioso tomar medidas: procurar ajuda, desabafar com amigos, alterar hábitos, quebrar rotinas domésticas etc.

Reconhecer que nada podemos fazer vai conduzir-nos finalmente, à fase de aceitação. O risco da doença, a perda do emprego, as inseguranças do futuro continuam a ser ameaças mas, passaram a fazer parte do nosso mapa mental. Defendemo-nos através de um processo da racionalização. Vamos fazer do COVID-19 uma grande oportunidade?

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