Amândio da Fonseca, Fundador e Presidente do Grupo Egor, para o Expresso
Num mundo que muda e se transforma cada vez mais depressa, existe um número crescente de pessoas que considera inevitável a emergência de uma nova geração de líderes corajosos e preparados para fazer face aos desafios de natureza climática, social e económica que se perfilam no horizonte das próximas décadas. Para terem sucesso, os novos líderes necessitam de reunir um conjunto de skills que numa cultura predominantemente cognitivista era considerado competências adjacentes na liderança.
No futuro, os líderes de sucesso serão aqueles que tiverem a coragem de se adaptar facilmente a um mundo em mudança, liderem pelo exemplo, estejam naturalmente predispostos a delegar responsabilidades, cultivem a empatia como uma segunda natureza, acolham com entusiasmo a inovação, exerçam uma liderança compassiva e tenham os níveis de insaciável curiosidade que caracterizam os pensadores do futuro. O líder corajoso deve ter o poder de influenciar positivamente a sua equipa a produzir e aprender mais e fazer a diferença pela capacidade de definir um propósito.
Winston Churchill considerava a coragem como uma das mais importantes qualidades humanas, por ser, segundo ele, a que garantia todas as outras. Na psicologia organizacional não é comum que a coragem seja considerada uma skill relevante na avaliação do desempenho profissional, nem tão-pouco como fator preditivo de sucesso nos perfis de exigência de candidatos a funções de liderança. No entanto, “times are changing”, e à medida que o mundo avança para um futuro sombrio de cataclismos climáticos, prognósticos pessimistas do futuro do trabalho, onde a inteligência artificial tem uma omnipresença ameaçadora, adensam-se as incertezas sobre o papel reservado ao ser humano nas próximas décadas.
Num contexto digital, no qual os algoritmos vão ter um contributo qualitativamente superior na melhoria da eficácia e rapidez no desempenho de tarefas e responsabilidades de gestão, as novas circunstâncias vão exigir competências como o sentido crítico na avaliação de situações onde é preciso decidir depressa e bem e aprender com rapidez num contexto em permanente mutação. Simultaneamente, no âmbito do acréscimo de responsabilidades sociais das empresas ESG, vão ser exigidos aos gestores e líderes o domínio de um set de skills emocionais, que, como a coragem, constituem os pilares de uma “nova ordem” que salvaguarde os valores humanos num mundo ameaçado por uma automação ‘sem rei nem roque’.