Amândio da Fonseca, Chairman do Grupo Egor, para o Expresso
Os graus universitários, continuando a ser importantes, não são fatores indiscutíveis na construção de carreiras de sucesso
Não tem uma licenciatura? Tem mais de 50 anos? Não há problema. Muitas das organizações que recusam admitir candidatos sem licenciatura ou com idade acima dos 50 anos estão a ser forçadas a flexibilizar os critérios de recrutamento, como consequência da escassez de recursos qualificados, das dificuldades de captação de top talent e, sobretudo, devido ao crescimento de empresas com tecnologias baseadas em skills.
A importância atribuída às skills [competências] nos processos de recrutamento terá surgido nos Estados Unidos (EUA) como consequência da escassez de candidatos com credenciais universitárias, mas também do resultado de pesquisas e conclusões de especialistas que advogam as vantagens da admissão de candidatos não licenciados mas que detêm skills e experiências que potenciam a rapidez e o sucesso da sua integração. A questão ter-se-á tornado viral nos EUA durante o mandato presidencial de Donald Trump. Confrontado com as dificuldades dos serviços federais de competirem com empresas privadas no recrutamento do top talent, Trump emitiu uma ordem executiva presidencial que determinava que os serviços federais de recrutamento deixassem de recrutar, exclusivamente, candidatos com credenciais universitárias e passassem a considerar, igualmente, candidatos que, não sendo licenciados, demonstrassem domínio das skills exigidas para a função.
Em Portugal, como noutros países, as dificuldades de recrutamento estão a obrigar as empresas a alargar os horizontes do recrutamento para além dos territórios académicos e dos preconceitos etários e a aderir a modelos centrados em skills que reflitam a evidência crescente de que as novas tecnologias exigem competências e soft skills não só nas funções de natureza técnica, mas em muitas outras funções. À medida que a inteligência artificial (IA) e a automação obrigam as empresas a reformular skills críticas, os gestores terão que desafiar crenças com raízes profundas e concluir que os graus universitários, continuando a ser importantes, não são fatores indiscutíveis na construção de carreiras de sucesso. Elon Musk alertou recentemente que os candidatos que se limitavam a completar cursos universitários de quatro anos não deveriam ter a expectativa de trabalhar na Tesla.