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«Sem paixão no que se faz, o trabalho torna-se monótono e cansativo», diz Amândio da Fonseca

Egor: Nov 17, 2023

Esta entrevista foi publicada na edição de outono da revista Líder. 

A história do Grupo EGOR confunde-se com a do seu fundador. Amândio da Fonseca recorda os mais de 30 anos de vida de um grupo que tem vindo a acompanhar os ventos de mudança e necessidades das empresas nacionais e internacionais.

O grupo que acaba de optar por reforçar a sua atuação em três grandes vetores, dedicando uma marca a cada um: Consultoria em Recursos Humanos – EGOR; Trabalho Temporário – THE BRIDGE; e Outsourcing – SYNCHRO.

Em entrevista, Amândio da Fonseca, Fundador e Chairman do Grupo EGOR, mostra-se um líder que aos 85 anos mantém a paixão, a curiosidade, a dose de perfecionismo, a vontade de aprender e de vencer os demónios interiores.

Depois de tantos anos à frente da Egor, onde se vai buscar a força e a inspiração para renovar os negócios?

Ter muita curiosidade, tentar deixar pegadas no percurso, vencer demónios interiores e estar apaixonado por aquilo que se faz.

Quais os desafios de liderança que durante a sua vida o deixaram mais frágil e os que o fortaleceram?

É difícil recordar situações de dificuldade, fracassos ou vitórias, mas, passados tantos anos, considero-me afortunado porque todas foram oportunidades valiosas de aprendizagem e desenvolvimento pessoal.

Manter uma empresa no mercado implica uma atualização permanente a vários níveis. No caso da Egor, quatro décadas em que foram feitas várias alterações. Arrepende-se de alguma ou considera que fez sempre aquilo que era preciso ser feito?

Seria presunçoso considerar que fiz sempre aquilo que poderia ou deveria ter feito. Embora tenha tentado antecipar tendências e ventos de mudança, houve oportunidades que, por negligência pessoal ou limitações de uma PME portuguesa, foram impossíveis de concretizar.

Sobre as duas novas marcas, o que vão trazer de inovador e o que se espera em termos de resultados para a empresa?

O lançamento das marcas THE BRIDGE e SYNCHRO têm duas explicações simples: o acelerado crescimento dos negócios do Grupo, nas atividades de Trabalho Temporário e do Outsourcing; e a vontade de reforçar a autonomia e a identidade de negócios com caraterísticas, públicos-alvo e recursos diferentes, para dar reposta a necessidades específicas do mercado de trabalho. As empresas das áreas do Recrutamento especializado, Consultoria, Formação e Desenvolvimento, detentoras de um longo e prestigiado track record nas áreas onde atuam, irão continuar a ostentar o logotipo da EGOR, agora com uma imagem mais juvenil e adaptada ao mercado atual.

Considera que os tempos atuais são mais exigentes em que aspeto? O que se exige hoje das empresas e dos seus líderes?

Em meados dos anos 80, a maioria dos profissionais de recursos humanas lutava para sobreviver num mercado de trabalho antiquado e rotineiro, onde era difícil medrar fora dos compadrios instalados, das cunhas e da visão paroquial da grande maioria das empresas. Embora a ameaça da integração e da concorrência europeia já estivesse presente no inconsciente coletivo, a maioria dos empresários aguardava, como S. Tomé, para ver e crer. A iniciativa pessoal de sair de Lisboa para participar num congresso internacional, com o objetivo de descobrir um parceiro qualificado e constituir uma empresa, com um pé na Europa, foi sem dúvida uma decisão feliz. Digo-o na medida em que a futura EGOR Portugal viu abrir-se-lhe não só um imenso mercado, mas, sobretudo, foi obrigada a uma brusca imersão num caldo de cultura plurinacional. Passou a ter parceiros de negócios que a forçaram a adotar processos de trabalho e novas metodologias, e, sobretudo, a fazer uma atualização de mentalidades e motivações.

Quais os seus pilares de sustentação emocional e espiritual?

Talvez por alguma dose de perfecionismo, sempre tendi a associar as responsabilidades dos gestores de topo e de empreendedores às exigências de carreira dos atletas de alta competição. Têm os mesmos objetivos de sucesso, níveis elevados de competitividade, pressão social e stresse de níveis semelhantes. Por tal motivo, tentei adotar estilos de vida e alimentação saudáveis, juntamente com exercício regular, para reforçar a resiliência física e emocional. Após uma estadia na Índia, a prática da meditação para lidar com o stresse e a ansiedade, tornou-se igualmente uma prática muito útil para lidar com as angústias da profissão.

Que recado pode dar aos jovens líderes destes tempos digitais?

Não sinto qualquer tipo de autoridade para dar recados, mas não posso deixar de referir que, sem paixão no que se faz, o trabalho torna-se monótono e cansativo.

Quando criou a sua empresa nos anos 80, o nosso País e o mundo eram completamente diferentes. Tem saudades de alguma coisa?

Tenho, genuinamente, maior interesse em imaginar como será Portugal em 2050, e como viverão os meus filhos, do que recordar o que aconteceu no passado.

Amândio da Fonseca é licenciado em Psicologia da Educação pela Universidade de Lisboa. Com uma carreira desenvolvida na NORMA (antiga consultora do grupo CUF) e como sócio da AREA CHAVE – Recursos Humanos, fundou, em maio de 1986, a EGOR Portugal em sociedade com a EGOR Internacional, uma multinacional de Recursos Humanos com sede em Paris. Nos anos seguintes, a EGOR Portugal diversificou e criou a holding – EGORGEST – que agrupa várias sociedades nas áreas do Recrutamento, Formação, Consultadoria, Trabalho Temporário e Outsourcing. Em 1982, a EGOR Portugal tornou-se uma empresa de capitais inteiramente portugueses na sequência de uma operação de MBO concluída com sucesso. Amândio da Fonseca desempenha as funções de Chairman da EGORGEST desde 2018. Tem quatro filhos e vive em Lisboa.

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